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Em HM, o Natal era colossal

Em imagens, recortes de um dos momentos natalinos mais saudosos de Blumenau: quando a antiga Hermes Macedo comandava a festa

24/12/2025 às 11h10
Por: Andre Bonomini
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Arquivo / José Geraldo Reis Pfau
Arquivo / José Geraldo Reis Pfau

Hermes Macedo

Um nome pomposo nas memórias comerciais de um país. Obra de dois irmãos paranaenses que, de uma modesta agência de autopeças construiram um império varejista estendido, no seu auge, há mais de 280 lojas "do Rio Grande ao Grande Rio".

A HM, como era curtamente chamada tempos depois, foi um dos tantos modelos clássicos de "loja de departamentos" que pertenceu a uma época áurea deste modelo baseado na forma importada dos EUA de comércio de utilidades domésticas em larga escala. 

Nomes como Mappin, Mesbla, Ultralar e até mesmo a regional Lojas Hering incluiam-se neste patamar explorado por Astrogildo e Hermes desde 1932, na provinciana Curitiba. Partiam do inicial autopeças e pneus para uma casa completa: cama-mesa-banho, modas, eletros, camping e nautica, brinquedos, um "quase-tudo" ao pé da letra.

E como todas do mesmo segmento, a HM também aproveitava as sazonalidades de um ano para incrementar as vendas. E o Natal, sempre ele, era a data máxima, o ponto culminante onde a criatividade rompia os limites possíveis e tocava o ambiente da magia, mesmo que esta significasse uma pura relação comercial.

Hermes Macedo: uma das grandes potências comerciais brasileiras de outros tempos. Onde o Natal era algo além de uma data comercial (Reprodução)

Mas, pergunto aos de lembrança vívida: alguém conseguia fazer melhor que a magia que enfeitava e recheava a Hermes Macedo nos tempos antigos? O reflexo, óbvio, era nacional, e Blumenau (que desde 1950 tinha sua filial da HM) era parte deste movimento que foi marco de quadras natalinas por anos a fio, muito além do tradicional portal montado na Rua XV em frente a loja.

Num álbum de capa azul guardado em um dos armarios do escritório que mantém na Rua Joinville, o publicitário e "mago das minimotos nascidas de relógios" José Geraldo Reis Pfau, o Zé Pfau, guarda o relicário: lembranças, em antigas Kodak, dos espetáculos natalinos que a HM era capaz de realizar nas ruas da cidade.

Filho de Osmênio Pfau, gerente da filial blumenauense da HM por 35 anos, Zé Pfau mostrara à este escriba há muitos anos atrás todos estes recortes de um tempo antigo mais vivo e menos virtual. Cada elemento enche os olhos até hoje pela simplicidade cativante de crianças e adultos numa época naturalmente mais sensível aos corações.

Fachada da Hermes Macedo no Natal de 1973, com o clássico portal sobre a Rua XV, artifício utilizado em algmas cidades como a da matriz da empresa, Curitiba (PR) (Arquivo / José Geraldo Reis Pfau)

Anote alguns detalhes: o setor de brinquedos recheado de novidades e crianças ávidas, elementos decorativos que lembravam uma pequena vila, um presépio totalmente mecanizado montado por um artista de Indaial que tinha a mesma precisão de um relojoeiro ao ajustar os movimentos das figuras com barbantes acionados por motor elétrico.

Um mundo que nascia a cada dezembro naquelas paredes tão friamente comerciais. E isso tudo dentro da loja, pois extername era que o espetáculo parava a cidade. O desfile era um dos momentos mais aguardados: carros alegóricos, artistas circenses (vindos do Circo Bartolo, de Curitiba) interpretando mil personagens, musica, cores e ele: Papai Noel, "diretamente da Lapônia" para ocupar sua cadeira naquele endereço da Rua XV.

Por alguns anos, a apoteose de Natal da HM era, se não o maior, mas um dos marcantes momentos de celebração natalina na cidade. Algo que superava a mera troca comercial e criava a fantasia por meio da simplicidade e da inocencia, como um verdadeiro teatro móvel diante dos olhos já emocionados de muita gente. 

E não é exagero dizer: uma das peças motrizes que fez Blumenau, segundo a "lenda", ter um natal tão celebrado que fez crescer, à época, o interesse do modelo de uma simpática cidade gaúcha da serra tida como referencial atualmente. E mais do que isso, um festejo que aumentava a gostosa ansiedade do presente sonhado, do clima de festa e celebração deste período que pede calma e reflexão em gestos simples.

Setor de brinquedos da HM: um mundo sem fim de imaginação para a "gurizada" (Arquivo / José Geraldo Reis Pfau)

 

Uma apresentação de coral na unidade blumenauense, sob o olhar do próprio Hermes Macedo (de óculos, a direita) (Arquivo / José Geraldo Reis Pfau)

Os portais: marca registrada do período para a HM. Este no Natal de 1974 (Arquivo / José Geraldo Reis Pfau)

A apoteose dos desfiles natalinos organizados pela própria HM: encantamento para crianças e adultos (Arquivo / José Geraldo Reis Pfau)

Algo se perdeu no caminho e, apenas nos anos mais recentes, Blumenau tem organizado celebrações natalinas com beleza e pompa condizentes com a data recuperando um pouco do embalo do período que apagou-se durante os anos 1990 e 2000. Talvez não mais com o brilho inocente daqueles idos mais antigos, mas ai estariamos nós entrando no papo do "saudosista extremado", e desmerecer esforços atuais seria incorreto.

A HM, a pontentosa Hermes Macedo daqueles idos não sobreviveria aos balanços econômicos do Brasil e as crises institucionais da própria empresa. A concordata veio em 1992 e a falência a mataria por completo cinco anos depois, deixando apenas um punhado de fotos, publicidade e documentos espalhados, além das memórias de gente como o Zé Pfau, cujo pai fora figura central da unidade blumenauense em tempos de auge.

E Osmênio, como tantos, viveram naquele período algo que jamais volta: magia, inocência, encantamento, tempos de um Natal mais espetáculo e reflexão profunda, longe do virtual e muito mais do que as compras nos corredores da Hermes Macedo, responsável por algumas das mais belas lembranças de fim de ano que Blumenau tem guardadas.

Certa estava a chamada daquele tempo: "em HM, o Natal é colossal". 

Em algum lugar dos livros de história e da memória, ele continua sendo. 

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Andre Bonomini
Sobre o blog/coluna
Jornalista apaixonado pela memória e identidade local, André Bonomini escreve sobre fragmentos da história de Blumenau. Com sensibilidade e rigor na pesquisa, resgata fatos, personagens e curiosidades que ajudam a entender o passado e refletir sobre o presente da cidade. Seu trabalho busca preservar a memória coletiva e aproximar o público das raízes culturais de Blumenau.

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