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BEC e Teka: saudosismo em campo

Reencontro da tradicional marca de toalhas com o “mais querido” é uma pitada de memórias passadas com um olhar para o futuro. Um gol de placa para o esporte e a história

04/10/2025 às 13h00
Por: Andre Bonomini
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BEC e Teka: saudosismo em campo

(Foto destaque: Richard Ferrari Fotos)

Um pouco de saudosismo! A gente não poderia pedir mais em dias como estes nas esquinas do Sesi.

Que sabor de saudade! Alguns dirão que não vivi isso e não soaria justo falar. Mas alto lá! Acho que ser um jornalista entusiasta e pesquisador da história da minha cidade - e tricolor convicto, admito sem medo - não nos impede de brilhar o olho em um momento como este. Como se, em vez de entrar no corredor da venturosa fábrica de toalhas da 2 de setembro, a gente saísse do alçapão do velho Deba.

Nesta sexta-feira última (03), o Blumenau Esporte Clube deu uma pitada de saudosismo voltada ao futuro para encher o olho de qualquer torcedor do clube ou daquele tio que lembra de um passado distânte: formalizou o patrocinio da tradicional Teka para a área nobre da camisa do "mais querido", no retorno de uma antiga parceria que remonta outros tempos do clube e do nobre esporte bretão citadino.

O reencontro: BEC e Teka novamente juntos, e novamente em um momento de ressurgimento (Lucas Rodrigues / BEC)

Desde o spoiler disparado nas redes sociais quase um dia antes, notava-se a reação da torcida entre loas e saudades Não é, apenas, um toque de valor ao novo momento do clube nesta remontada histórica que vem vivendo, mas uma releitura que corrobora aquilo que de mais precioso o BEC tem em quem o acompanha e chama a atenção: o apego emocional à um passado marcante, que vem de gerações vestindo as três cores.

Quando a Tecelagem Kuehnrich estampou a camisa do BEC pela primeira vez, falamos ainda de três coisas: a recuperação pós-enchente, a novidade da Oktoberfest e a pujança da indústria textil que fazia caravanas partidas do país inteiro aportarem no Vale para compras e compras, como um elemento a mais do turismo já efervescente naquele período.

O BEC retornava da segunda divisão derrubando o sempre temerário Figueirense graças aos tentos milagrosos do "artilheiro de Deus" Chicão e seus pares em campo, em duas partidas épicas recordads até hoje pelos mais veteranos das arquibancadas, seja no Sesi ou no Deba. As perspectivas do clube eram as melhores e a remontada vinha em boa hora, quase que em simultãneo a recuperação da força motriz da Teka.

O primeiro encontro: nos anos 1980, em tempos de pujança da indústria têxtil e de um BEC revigorado depois dos revezes (Memoria BEC)

Das indústrias texteis do Vale no período pós-enchentes, era ela a mais prejudicada com a água lodosa do rio. Em duas cheias implacáveis, o parque fabril se viu embaixo d'água, em cenas que jamais poderia imaginar que alguma atividade industrial pudesse ressurgir naquele pedaço de chão. Ainda bem que braço não faltou e, sob a sombra de uma estrutura dita colossal, a Teka se blindou e nunca mais o perigo vindo do rio vizinho a atingira como antes.

Também o Blumenau estava embalando-se. Teve que engolir um instável 1985 e uma queda para a segunda divisão, bem como um cenário tão parecido como o deste ano: um "quase acesso", naquela ocasião impedido pelo Paysandu de Brusque, campeão da segundona de 1986 e cuja injustiça do torneio fazia apenas o campeão subir. Foram dois jogos duros, sendo sacramentada a vitória dos vizinhos na partida disputada no Cônsul Carlos Renaux, com vitória verde.

Marcas das águas: parque fabril da Teka foi o mais afetado com as enchentes entre 1983 e 1984 (Antigamente em Blumenau)

Era um momento da história que parecia não haver limites, seja na malha tecida ou no futebol jogado. E não era raro ver também uma sucessão de marcas citadinas estampando o manto tricolor com o passar dos anos, as vezes quase que seguidamente de temporada a temporada. A moda do patrocinador na camisa de futebol ainda era muito recente mas calibrava os cofres dos clubes e dava visibilidade as marcas que se apresentavam nas pelejas.

De cabeça, além da Teka, o BEC já teve apoio e estampas que facilmente podem ser referenciadas pelos períodos que o clube viveu entre o fim dos anos 1980 e a fase final da primeira vida, no fim dos anos 1990. A Cremer - por meio da marca Leukoplast - esteve na dura jornada do vice-campeonato catarinense em 1988, e Altona e Hering alternaram-se na camisa tricolor nos confrontos contra o Flamengo pela Copa do Brasil do ano seguinte, como exemplos mais marcantes.

Agora, a coincidência bate a porta do clube e da fábrica outra vez. BEC e Teka vivem uma remontada, cada uma em seu caminho e com um horizonte positivo que causa até aquele "medo nervoso" em quem observa estes processos. A casa dos Kuehnrich vem em recuperação judicial desde 2012, mas recentes acordos com a atual controladora e a família tem dado novas perspectivas a marca desde o decreto de falência com atividade continuada, inclusive com novos caminhos possíveis para a reestruturação.

BEC e Cremer (Leukoplast) na final do Catarinense de 1988 (Futebol Catarinense das Antigas)
BEC e Altona: presente no primeiro jogo da segunda fase da Copa do Brasil, contra o Flamengo (Futebol Catarinense das Antigas)
BEC e Hering: a sombra do Maracanã, no segundo jogo contra o Flamengo (Futebol Catarinense das Antigas)
Outros ainda adornaram o manto do "mais querido" no correr dos anos 1990, como Artex (foto), Ceval (atual Bunge) e Taschibra (Futebol Catarinense das Antigas)
(Antigamente em Blumenau)

Já o mais querido vive um momento de sonho. Mesmo não conseguindo o acesso a elite neste ano, as novidades e a solidez que o modelo SAF tem trazido ao clube permitem ao torcedor uma segurança não vista há muito tempo. O clube tem potencial, é o lider de seu grupo na Copa Santa Catarina, tem qualidade e a gestão tem se mostrado séria e clara desde o começo, amparada por investimentos vindos do Reino Unido numa tradicional marca de nosso esporte bretão.

Indisfarçavel mesmo é a consequencia emocional que atinge jovens e velhos: o saudosismo misturado com futuro. Um movimento empresarial simples que soa como mais um passo para aquilo que esta coluna sempre prega: a volta do futebol blumenauense com vigor, seriedade e um pouco de história que conecta gerações, convida pessoas ao estádio para empurrar o clube em busca de vitórias e de uma certa justiça para um esporte que, sim, pode se misturar ao chope e aos trajes de fritz e frida nossos de cada dia.

Ainda é possivel viver e ver a história ser escrita e que tomara ela se converter em gols: de toalhas e redes balançadas. Pisque o olho e se permita voltar no tempo com cara de hoje, o BEC e a Teka se encontraram de novo.

O futebol de Blumenau - e a historia da cidade - agradecem. 

(Richard Ferrari Fotos)
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Andre Bonomini
Sobre o blog/coluna
Jornalista apaixonado pela memória e identidade local, André Bonomini escreve sobre fragmentos da história de Blumenau. Com sensibilidade e rigor na pesquisa, resgata fatos, personagens e curiosidades que ajudam a entender o passado e refletir sobre o presente da cidade. Seu trabalho busca preservar a memória coletiva e aproximar o público das raízes culturais de Blumenau.

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