(Foto destaque: Richard Ferrari Fotos)
Um pouco de saudosismo! A gente não poderia pedir mais em dias como estes nas esquinas do Sesi.
Que sabor de saudade! Alguns dirão que não vivi isso e não soaria justo falar. Mas alto lá! Acho que ser um jornalista entusiasta e pesquisador da história da minha cidade - e tricolor convicto, admito sem medo - não nos impede de brilhar o olho em um momento como este. Como se, em vez de entrar no corredor da venturosa fábrica de toalhas da 2 de setembro, a gente saísse do alçapão do velho Deba.
Nesta sexta-feira última (03), o Blumenau Esporte Clube deu uma pitada de saudosismo voltada ao futuro para encher o olho de qualquer torcedor do clube ou daquele tio que lembra de um passado distânte: formalizou o patrocinio da tradicional Teka para a área nobre da camisa do "mais querido", no retorno de uma antiga parceria que remonta outros tempos do clube e do nobre esporte bretão citadino.
Desde o spoiler disparado nas redes sociais quase um dia antes, notava-se a reação da torcida entre loas e saudades Não é, apenas, um toque de valor ao novo momento do clube nesta remontada histórica que vem vivendo, mas uma releitura que corrobora aquilo que de mais precioso o BEC tem em quem o acompanha e chama a atenção: o apego emocional à um passado marcante, que vem de gerações vestindo as três cores.
Quando a Tecelagem Kuehnrich estampou a camisa do BEC pela primeira vez, falamos ainda de três coisas: a recuperação pós-enchente, a novidade da Oktoberfest e a pujança da indústria textil que fazia caravanas partidas do país inteiro aportarem no Vale para compras e compras, como um elemento a mais do turismo já efervescente naquele período.
O BEC retornava da segunda divisão derrubando o sempre temerário Figueirense graças aos tentos milagrosos do "artilheiro de Deus" Chicão e seus pares em campo, em duas partidas épicas recordads até hoje pelos mais veteranos das arquibancadas, seja no Sesi ou no Deba. As perspectivas do clube eram as melhores e a remontada vinha em boa hora, quase que em simultãneo a recuperação da força motriz da Teka.
Das indústrias texteis do Vale no período pós-enchentes, era ela a mais prejudicada com a água lodosa do rio. Em duas cheias implacáveis, o parque fabril se viu embaixo d'água, em cenas que jamais poderia imaginar que alguma atividade industrial pudesse ressurgir naquele pedaço de chão. Ainda bem que braço não faltou e, sob a sombra de uma estrutura dita colossal, a Teka se blindou e nunca mais o perigo vindo do rio vizinho a atingira como antes.
Também o Blumenau estava embalando-se. Teve que engolir um instável 1985 e uma queda para a segunda divisão, bem como um cenário tão parecido como o deste ano: um "quase acesso", naquela ocasião impedido pelo Paysandu de Brusque, campeão da segundona de 1986 e cuja injustiça do torneio fazia apenas o campeão subir. Foram dois jogos duros, sendo sacramentada a vitória dos vizinhos na partida disputada no Cônsul Carlos Renaux, com vitória verde.
Era um momento da história que parecia não haver limites, seja na malha tecida ou no futebol jogado. E não era raro ver também uma sucessão de marcas citadinas estampando o manto tricolor com o passar dos anos, as vezes quase que seguidamente de temporada a temporada. A moda do patrocinador na camisa de futebol ainda era muito recente mas calibrava os cofres dos clubes e dava visibilidade as marcas que se apresentavam nas pelejas.
De cabeça, além da Teka, o BEC já teve apoio e estampas que facilmente podem ser referenciadas pelos períodos que o clube viveu entre o fim dos anos 1980 e a fase final da primeira vida, no fim dos anos 1990. A Cremer - por meio da marca Leukoplast - esteve na dura jornada do vice-campeonato catarinense em 1988, e Altona e Hering alternaram-se na camisa tricolor nos confrontos contra o Flamengo pela Copa do Brasil do ano seguinte, como exemplos mais marcantes.
Agora, a coincidência bate a porta do clube e da fábrica outra vez. BEC e Teka vivem uma remontada, cada uma em seu caminho e com um horizonte positivo que causa até aquele "medo nervoso" em quem observa estes processos. A casa dos Kuehnrich vem em recuperação judicial desde 2012, mas recentes acordos com a atual controladora e a família tem dado novas perspectivas a marca desde o decreto de falência com atividade continuada, inclusive com novos caminhos possíveis para a reestruturação.
Já o mais querido vive um momento de sonho. Mesmo não conseguindo o acesso a elite neste ano, as novidades e a solidez que o modelo SAF tem trazido ao clube permitem ao torcedor uma segurança não vista há muito tempo. O clube tem potencial, é o lider de seu grupo na Copa Santa Catarina, tem qualidade e a gestão tem se mostrado séria e clara desde o começo, amparada por investimentos vindos do Reino Unido numa tradicional marca de nosso esporte bretão.
Indisfarçavel mesmo é a consequencia emocional que atinge jovens e velhos: o saudosismo misturado com futuro. Um movimento empresarial simples que soa como mais um passo para aquilo que esta coluna sempre prega: a volta do futebol blumenauense com vigor, seriedade e um pouco de história que conecta gerações, convida pessoas ao estádio para empurrar o clube em busca de vitórias e de uma certa justiça para um esporte que, sim, pode se misturar ao chope e aos trajes de fritz e frida nossos de cada dia.
Ainda é possivel viver e ver a história ser escrita e que tomara ela se converter em gols: de toalhas e redes balançadas. Pisque o olho e se permita voltar no tempo com cara de hoje, o BEC e a Teka se encontraram de novo.
O futebol de Blumenau - e a historia da cidade - agradecem.
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