Um menino autista de 4 anos.
Amarrado pelos pulsos e cintura, dentro de um banheiro, sem sapatos, sem meias. Sozinho.
Poderia apenas ser uma história inventada, fictícia, mas não é. É real. Aconteceu nesta semana, em uma escola particular na região metropolitana de Curitiba. E poderia ter acontecido em qualquer lugar do Brasil, inclusive em nossa cidade. Talvez até já tenha acontecido.
O vídeo, amplamente divulgado nas redes sociais e os principais portais de notícias, mostra o exato momento em que agentes do Conselho Tutelar e da Guarda Municipal, entram na escola e encontram o menino, autista nível 3 de suporte, não verbal, incapaz de relatar com clareza o que viveu. O que se viu é suficiente para nos calar por dentro e horrorizar: uma criança indefesa, contida com tiras de tecido, como se seu corpo fosse um problema a ser controlado.
A justificativa da professora, presa em flagrante por maus-tratos, foi simples: “ele é muito agitado”. Como se isso fosse suficiente. Como se isso fosse aceitável.
Não é.
Esse não é apenas um caso de negligência. É um retrato cruel da falta de preparo das nossas escolas, públicas e privadas, para acolher crianças autistas. E o mais grave: não é um caso isolado. Recebemos denúncias constantemente. Elas mudam de cidade, de nome, de escola, porém seguem com a mesma dor: a da exclusão disfarçada de incapacidade institucional.
É comum ouvirmos que a graduação não prepara os professores para o atendimento especializado. E é verdade, porém em parte. O que falta não é apenas formação técnica. Falta investimento. Falta empatia. Falta vontade política. O que está faltando dos gestores escolares, e dos donos de colégios privados, tratarem essa pauta como prioridade, não como “obrigação legal”?
A cada ano, mais e mais crianças autistas estarão nas salas de aula. O espectro não é exceção, é parte da sociedade. E fingir que a escola pode continuar como sempre foi é negar a realidade e comprometer vidas.
Como pai de uma criança autista com deficiência intelectual e não verbal, me dói saber que meu filho, ou qualquer outro, pode estar vulnerável a esse tipo de violência, justamente no único lugar onde deveria se sentir seguro para crescer.
Chegou a hora de dizermos juntos: não basta incluir no papel. É preciso incluir de verdade.
Com formação continuada. Com salas adaptadas. Com escuta ativa às famílias. Com plano de ação. E com a coragem de mudar o que for necessário.
E também é papel de todos nós pais, empresas, sociedade civil, cobrar, participar e construir soluções.
Porque quando a escola amarra, ela não apenas imobiliza, ela fere a dignidade de uma geração inteira.
@institutoviniciusian | Chega de silêncio. Educação é acolhimento.
Mín. 11° Máx. 20°