
Não é fácil ser pai de uma criança autista. Mas deveria ser mais simples confiar que os espaços
que ela frequenta — a escola, a terapia, a comunidade — são lugares seguros. Deveriam ser.
Mas não são.
O caso da Isabelly Baldin, jovem autista de 27 anos, estudante de medicina em Foz do Iguaçu
(PR), é um alerta que não pode mais ser ignorado. Isabelly morreu no último 16 de junho, na
antevéspera do Dia do Orgulho Autista, após sofrer quase dois anos de perseguição, bullying e
abandono por colegas e professores — justamente aqueles que deveriam tê-la protegido.
Infelizmente, esse não é um caso isolado. Está se tornando comum. E mais do que isso:
normalizado.
Em São Paulo, o menino Carlos, de 13 anos, autista, morreu após ser brutalmente agredido por
“colegas” na escola.
Em Santos (SP), um garoto de 12 anos, também autista, foi rabiscado nos braços, testa e nuca
com palavras como “gay”, “retardado” e outras ofensas impronunciáveis — tudo dentro da
escola, num ambiente que deveria ser acolhedor.
Em Florianópolis, uma criança autista de 12 anos foi ameaçada e sofreu bullying dentro de
uma escola pública, sem proteção institucional.
E aqui mesmo, em Blumenau, uma criança autista de apenas 8 anos sofreu, pasmem, agressão
física de uma professora dentro da sala de aula.
Esses episódios não são falhas pontuais — são um sintoma sistêmico de falta de empatia,
preparo e justiça.
Como pai do Vinícius Ian, autista de 7 anos, com nível 2 de suporte e deficiência intelectual,
essa realidade me corta. Porque meu filho, como tantos outros, não consegue se defender. Ele
pode não conseguir contar o que sofreu, pode não entender a maldade com clareza — mas
sente a exclusão, o medo, o isolamento. E como pai, o meu maior medo é não conseguir
protegê-lo dessas violências silenciosas, feitas por quem deveria acolher.
O bullying contra autistas está matando. E, mais grave, está sendo praticado por educadores,
colegas e até profissionais da saúde. O mesmo sistema que deveria proteger, está ferindo.
Autismo não tem "grau de gravidade". Tem níveis de suporte — e todos precisam ser
respeitados. A vida de um autista não vale menos porque ele não fala, não entende como os
outros ou precisa de ajuda. Toda vida vale — e merece acolhimento.
Não podemos aceitar que isso continue. Precisamos erguer ainda mais a voz.
Para que essas mortes não passem impunes.
Que a dor dos pais de Isabelly nunca se torne a nossa. E que a morte dela nos lembre da
urgência de construir um mundo onde nossos filhos possam viver — e serem amados — como
são.
Para que a empatia, finalmente, deixe de ser discurso, que a inclusão deixa de ser teoria, e
passe a ser ato.
Para que nossos filhos possam viver — com dignidade, com segurança e com amor.
@institutoviniciusian | Empatia que não se transforma em atitude é só omissão.
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