17°C 28°C
Blumenau, SC
Publicidade

Quando o silêncio mata: autistas, bullying e a dor que a sociedade insiste em ignorar

Por Rodrigo Gonçalves e Instituto Vinícius Ian

25/06/2025 às 10h25 Atualizada em 25/06/2025 às 10h43
Por: Maurício Cattani
Compartilhe:
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Não é fácil ser pai de uma criança autista. Mas deveria ser mais simples confiar que os espaços
que ela frequenta — a escola, a terapia, a comunidade — são lugares seguros. Deveriam ser.
Mas não são.

O caso da Isabelly Baldin, jovem autista de 27 anos, estudante de medicina em Foz do Iguaçu
(PR), é um alerta que não pode mais ser ignorado. Isabelly morreu no último 16 de junho, na
antevéspera do Dia do Orgulho Autista, após sofrer quase dois anos de perseguição, bullying e
abandono por colegas e professores — justamente aqueles que deveriam tê-la protegido.
Infelizmente, esse não é um caso isolado. Está se tornando comum. E mais do que isso:
normalizado.

Em São Paulo, o menino Carlos, de 13 anos, autista, morreu após ser brutalmente agredido por
“colegas” na escola.

Em Santos (SP), um garoto de 12 anos, também autista, foi rabiscado nos braços, testa e nuca
com palavras como “gay”, “retardado” e outras ofensas impronunciáveis — tudo dentro da
escola, num ambiente que deveria ser acolhedor.

Em Florianópolis, uma criança autista de 12 anos foi ameaçada e sofreu bullying dentro de
uma escola pública, sem proteção institucional.

E aqui mesmo, em Blumenau, uma criança autista de apenas 8 anos sofreu, pasmem, agressão
física de uma professora dentro da sala de aula.

Esses episódios não são falhas pontuais — são um sintoma sistêmico de falta de empatia,
preparo e justiça.
Como pai do Vinícius Ian, autista de 7 anos, com nível 2 de suporte e deficiência intelectual,
essa realidade me corta. Porque meu filho, como tantos outros, não consegue se defender. Ele
pode não conseguir contar o que sofreu, pode não entender a maldade com clareza — mas
sente a exclusão, o medo, o isolamento. E como pai, o meu maior medo é não conseguir
protegê-lo dessas violências silenciosas, feitas por quem deveria acolher.

O bullying contra autistas está matando. E, mais grave, está sendo praticado por educadores,
colegas e até profissionais da saúde. O mesmo sistema que deveria proteger, está ferindo.
Autismo não tem "grau de gravidade". Tem níveis de suporte — e todos precisam ser
respeitados. A vida de um autista não vale menos porque ele não fala, não entende como os
outros ou precisa de ajuda. Toda vida vale — e merece acolhimento.

Não podemos aceitar que isso continue. Precisamos erguer ainda mais a voz.
Para que essas mortes não passem impunes.

Que a dor dos pais de Isabelly nunca se torne a nossa. E que a morte dela nos lembre da
urgência de construir um mundo onde nossos filhos possam viver — e serem amados — como
são.
Para que a empatia, finalmente, deixe de ser discurso, que a inclusão deixa de ser teoria, e
passe a ser ato.

Para que nossos filhos possam viver — com dignidade, com segurança e com amor.

@institutoviniciusian | Empatia que não se transforma em atitude é só omissão.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
SIMONE WOLTERHá 4 meses BlumenauNos pais de autista temos que notar os detalhes. A falta de vontade é agitação ao ir para a escola e sinal de bullyng. Duas semanas atraz deixaram meu filho sair da escola antes da minha chegada,pois estava atrasada ao ir no advogado. Mas graça a Deus ele atravessou uma rua em segurança e sozinho e estava perto de casa. Meu filho autista grau 2 e não verbal. Mas pelo menos tudo ocorreu bem. Já o SUS não da nenhum suporte . Abandono total do poder público.
Mostrar mais comentários
Rodrigo Gonçalves
Sobre o blog/coluna
Rodrigo Gonçalves é fundador e presidente do Instituto Vinícius Ian. Advogado, é também
empreendedor, pai do Vinícius e alguém que dedica sua vida a unir propósito e performance.
Mentor de negócios, assumiu como missão transformar realidades e lutar para que nenhuma
família enfrente o autismo sozinha, compromisso que nasceu com o diagnóstico de autismo de
seu filho Vinícius, aos dois anos de idade.

Em sua coluna no AJ Notícias, Rodrigo compartilhará vivências, reflexões e aprendizados
adquiridos como pai, líder e cidadão engajado na construção de um Brasil mais inclusivo. Seu
objetivo é provocar conversas cruciais, gerar impacto e inspirar ações capazes de transformar
histórias.
Ver notícias
Blumenau, SC
18°
Tempo nublado

Mín. 17° Máx. 28°

18° Sensação
0.45km/h Vento
88% Umidade
33% (0.23mm) Chance de chuva
05h31 Nascer do sol
06h29 Pôr do sol
Dom 25° 17°
Seg 19° 16°
Ter 18° 15°
Qua 16° 14°
Qui 19° 14°
Atualizado às 06h01
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,39 +0,04%
Euro
R$ 6,26 -0,03%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 637,214,36 +0,58%
Ibovespa
146,172,20 pts 0.31%