Quando descobri que seria pai, sonhei tudo o que se espera sonhar quando se descobre que é
um menino: futebol no fim de semana, videogame, ensinar a andar de bicicleta, ver o primeiro
namoro, dirigir pela primeira vez, escutar aquele “pai, posso pegar o carro?”. Sonhei o comum,
o esperado, o tradicional.
Mas a vida, ou melhor, Deus, tinha um plano completamente diferente.
O Vinícius chegou, e junto com ele, um mundo novo. Aos dois anos, veio o diagnóstico de
autismo. E com ele, um silêncio que não era só dele. Era meu também. Era o silêncio do medo,
da dúvida, da insegurança.
O tão esperado “oi, papai” nunca veio, ao menos, não do jeito que eu esperava.
Ser pai do Vinícius me ensinou que amor não é sobre o que você ouve. É sobre o que você
sente, mesmo no silêncio.
Me ensinou que abraço vale mais que palavras. Que olhar é diálogo. Que presença é mais forte
que qualquer discurso.
Troquei os dias de futebol por sessões de terapia. Os jogos de botão e video games por
brincadeiras sensoriais. E troquei, principalmente, a expectativa de ser um tipo de pai... pelo
privilégio de ser o pai que o meu filho precisa.
É por isso que essa coluna é dedicada a todos os pais.
Mas especialmente àqueles que ficaram.
Aos que ficaram mesmo quando doeu.
Mesmo quando a crise chegou no meio da madrugada.
Mesmo quando não entendiam os gestos.
Mesmo quando não sabiam o que fazer, mas ficaram para aprender.
Aos que trocaram o orgulho pela empatia. O medo pela presença.
Aos que não correram. Que reaprenderam.
Você, pai atípico, é mais forte do que imagina.
Porque você não só aprendeu a amar de outro jeito, você escolhe amar todos os dias, mesmo
quando o mundo lá fora não entende.
Vinícius me ensinou que propósito é maior que plano.
Ele me fez entender que paternidade não é sobre controlar o caminho, mas sobre caminhar
junto, mesmo quando a estrada muda de rumo.
Graças a ele, nasceu o Instituto que leva o seu nome.
E junto com ele, nasceu em mim a missão de fazer com que nenhuma família precise passar
pelo que a minha passou sozinha.
Ser pai de uma criança autista é redescobrir o mundo pelos olhos mais puros que existem.
É reaprender a ver beleza nas pequenas conquistas.
É entender que o amor, quando é real, não precisa de palavras. Ele precisa de presença.
Neste Dia dos Pais, não celebro só os pais. Celebro a coragem de amar com propósito.
Porque ser pai do Vinícius não é só o meu papel.
É a melhor versão de mim.
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