14°C 24°C
Blumenau, SC
Publicidade

André Bonomini: Algo sobre Blumenau e o Zeppelin

André Bonomini: Algo sobre Blumenau e o Zeppelin

08/08/2023 às 09h37 Atualizada em 08/08/2023 às 12h37
Por:
Compartilhe:
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

"O que o zeppelin tem a ver com a cultura de Blumenau?"

Perguntas me inquietam, sobretudo quando elas tem a ver com a nossa história tão depauperada. Esta, quem soltou, foi um grande amigo meu em um comentário sobre a recente escolha do Zeppelin Luftschiff Gruppe como uma das atrações da próxima Oktoberfest, entre seus carros alegóricos.

Ao menos, alguns veículos da imprensa já dão como certa a escolha do grupo, apesar de um pedido de recurso que o grupo CapyWagen, um dos derrotados, protocolou. No entanto, a prefeitura ainda não faz anuncio oficial sobre a vitória da atração e ela já causa os famosos "retetês" sobre a origem dos Zeppelins: uma delas, de que é um "símbolo da Alemanha nazista", como já vi por ai.

O projeto do Zeppelin Luftschiff Gruppe (Reprodução)

Controverso? Merecido? Aqui deixemos o debate para os entendedores, o que vale é a história, e vamos a ela então. Antes, é claro, um pouco de origens e de como os famosos dirigíveis alemães, que já foram um símbolo de luxo e perigo com sua mistura de hidrogênio e alumínio, cruzaram esse nosso dito céu alles blau no passado.

Não vamos entrar muito no que é e como surgiu a dirigibilidade, que teve até Santos Dumont como um de seus personagens, num histórico voo ao redor da Torre Eiffel, em outubro de 1901. No entanto, desde a sua concepção e uso - sobretudo na Primeira Guerra Mundial - aerostatos rígidos como os dirigíveis passaram a ser, corriqueiramente, chamados de "Zeppelin", em homenagem a um de seus desenvolvedores mais notáveis: o conde alemão Ferdinand Von Zeppelin.

Dizer que era um "simbolo nazista", neste preambulo, é um exagero. A concepção dos aerostatos é de antes de Adolf Hitler. No entanto, o regime se aproveitou e muito da simbologia de status e aventura que voar em dirigíveis oriundos da Alemanha traziam aos ricassos viajantes destas maravilhas, muitas delas comandadas pelo lendário Hugo Eckener, também gerente da Luftschiffbau-Zeppelin e, acredite, um antinazista que já tinha, entre seus clientes, até a marinha dos EUA, compradora de um exemplar.

Passagem do Graf Zeppelin por Blumenau, em 1934 (Adalberto Day)

Eles já eram, no entanto, muito mais símbolos deste luxo quase inacessível das viagens transatlânticas do que os outrora temerários bombardeiros da Primeira Guerra. Em 1934, já haviam realizado alguns cruzamentos bem sucedidos do Atlântico, com rotas que incluíam passagens pelo Brasil. Foi numa dessas, em julho daquele ano, que o Graf Zeppelin assombrou a pacata Blumenau em sua passagem.

A lenda urbana que ficou no ar naquele período é de que o dirigível foi mandado em missão de mapeamento para a construção de uma base de comando para Hitler na América do Sul. Uma lorota tão grande quanto a dos túneis do Teatro Carlos Gomes, mas que dariam um fabuloso livro de ficção (quem sabe eu o escreva um dia). O mesmo Graf Zeppelin voltaria ao Vale em 1937, um ano depois de outro gigante da mesma empresa cruzar nossos céus, este sendo mais bem lembrado.

Voando pela primeira vez em 4 de março de 1936, o LZ 129 Hindenburg era o maior assombro de toda a indústria aeronáutica naquele período. Até hoje, é lembrado como o maior invento voador de todos, batendo triplamente o finado Antonov AN-225. Combinando 200 mil metros cúbicos de barato hidrogênio e quatro motores Mercedes-Benz de 1.200 HP cada um, era a estrela da companhia e, inevitavelmente, o preferido da propaganda nazista, para a ira comedida de Eckener.

A passagem do Hindenburg por Blumenau, em dezembro de 1936 (acima e abaixo), causou furor no Vale (Adalberto Day)
(Antigamente em Blumenau)

Ele cruzou 17 vezes o Atlântico, sendo 10 nos EUA e sete no Brasil. Uma delas, é lembrada pelos compêndios de história de Blumenau: trata-se de 1° de dezembro de 1936, quando a passagem do gigante adornado de suásticas (bandeira alemã do período do regime) e dos anéis olímpicos (promovendo as Olimpíadas daquele ano) fez a cidade e o Vale tocar sinos e sirenes e gritar "Heil, Hitler!" pelas ruas (sim, teve quem fez a saudação. Estavamos em 1936).

No entanto, o que era símbolo de domínio dos nazistas no céu se tornou fumaça um ano depois, numa tragédia que consumiu rolos de filme e escândalos intermináveis nas salas de cinema onde foi exibido. O Hindenburg encontrou seu destino final envolvendo-se em chamas diante do com da Base Naval de Lakehurst, nos EUA, terminando sua vinda de Frankfurt num espetáculo dantesco de chamas: era o dia 6 de maio de 1937.

https://www.youtube.com/watch?v=QTkzLPDDfJA&ab_channel=SylvioBazote

Apesar do tamanho do incêndio, 62 dos 97 passageiros sobreviveram graças a ação imediata das equipes de resgate. Outras 35 pessoas a bordo morreram, seja no incêndio ou pulando da aeronave em chamas. O filme da tragédia levou multidões aos cinemas, num dos primeiros grandes fenômenos em massa nas telonas, prova desta lamentável sede humana pela desgraça alheia vinda de muito cedo.

Tão logo o Hindenburg vinha ao chão, terminava a era de ouro dos Zeppelins, que seria totalmente reduzida a pó nos escombros da guerra. A aviação comercial supriu esta lacuna fortemente, mas os dirigíveis ainda são vistos pelo céu, hoje como atração turística ou, meramente, como item de publicidade, muitos deles fabricados pela Zeppelin Luftschifftechnik, a sucedânea da velha fábrica de Hugo Eckener.

E em Blumenau, o voar dos Zeppelins nos céus da cidade passaram por ser, tão somente, uma nota histórica para muitos que o viram ou pesquisam imagens de suas passagens pelo Vale. Controversa escolha ou não, cabe-se olhar fortemente para a história e o momento em que aconteceram, de fato, na vida blumenauense. E, nesse caso, a escolha do grupo em colocar o dirigível na XV tem seu fundamento.

Se o Zeppelin tem algo a ver com a cultura da cidade? Isso não sei, mas a história não se apaga, em suas fotos e relatos, muito menos aqueles que, assombrados, viram nos céus o voar lento, vitorioso e, por que não, perigoso da fase áurea dos dirigíveis. Nascidos de um antinazista, convertidos forçadamente em propaganda de Hitler e que, hoje, são notas de um passado aventureiro da aviação.

E ai vem o Zeppelin…

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Blumenau, SC
14°
Chuva

Mín. 14° Máx. 24°

14° Sensação
0.09km/h Vento
93% Umidade
100% (0.82mm) Chance de chuva
06h52 Nascer do sol
05h51 Pôr do sol
Sex 16°
Sáb 18°
Dom 19°
Seg 20°
Ter 20°
Atualizado às 00h01
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,46 -0,02%
Euro
R$ 6,37 +0,04%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 663,402,16 -0,46%
Ibovespa
134,537,63 pts 1.04%