Torço para que meu moleque de três anos curta algum tipo de esporte.
Ele está aprendendo na escolinha onde estuda noções básicas de coordenação e equilíbrio.
Está sendo lapidado.
Seu primeiro contato com o esporte foi na escolinha do Planet Ball.
Mal tinha completado 1 ano de idade.
Parecia admirado com aquele ambiente mágico de crianças correndo atrás de uma bola.
Essa interação não significa nada.
Assim como o contato que teve com algum tipo de arte ou instrumento como o violão, por exemplo, que o avó paterno (que ele não conheceu) carregava para cima e para baixo dentro do carro.
Jogador.
Músico.
Genética.
Dom.
Talento nato.
Está no sangue.
Não dá para criar expectativa.
Atropelar etapas.
Muito menos forçar a barra.
Meu pai era um torcedor fanático do Fluminense.
Foi peladeiro no Vasto Verde.
Chegou a jogar no Bangu, modesto clube amador do bairro da Velha.
Curtia mesmo era a boemia.
Adorava um sereno.
Herdei todos essas particularidades.
Sou tricolor de coração.
Fui um moleque fascinado por futebol.
E por música.
Festas em família, com os amigos, prefiro a noite.
O sonho era ser jogador ou cantor.
Já joguei em campos e ginásios com torcida (famílias).
Era vocalista de uma banda de garagem/quarto.
Virei repórter sem querer.
Indiretamente por causa do futebol.
Por isso só o tempo dirá se meu filho vai herdar alguma dessas características.
Na base da pressão, tenho feito um trabalho psicológico, para que seja torcedor do Flusão.
Caso se adapte ao futebol ou algum tipo de esporte ou oxalá se torne um atleta, será uma realização.
O mesmo vale para minha filha.
Em 2019 levei a Taysa ao Galegão para ver o time de basquete feminino na Liga Nacional.
Adorou!
Interagiu depois do jogo com as meninas na quadra.
Pediu para voltar.
Mas por uma dessas coincidências que fogem do nosso controle veio a pandemia, não teve competição no ano seguinte, e quando voltou, estava proibida a presença do público.
Houve uma quebra natural de motivação e foco.
Ela fez ballet durante um ano.
Trocou pelo canto.
A gente acha que leva jeito.
Há tempos queremos que faça judô, karatê ou natação.
Está na onda do patins aqui no prédio.
Deixa estar.
Sonho um dia poder levar meu filho para um estádio ou quadra.
É uma experiência e tanto.
Em 1980 meu pai me levou ao Aderbal para assistir o primeiro jogo da história do Blumenau contra o Joaçaba.
Tinha nove anos na época.
Lembro de quase tudo naquele dia, principalmente do gol de Cabinho e a alegria das pessoas.
Aquela energia me contagiou.
Passei a desejar noite e dia em ser jogador.
Estudava de manhã no Lothar Krieck, no Água Verde, e à tarde jogava futebol de salão na AABB, na Ponta Aguda, com o técnico Manoel Dalpasquale (Maneca).
Uma rotina prazerosa que muitas crianças e adolescentes fazem nos dias de hoje.
Com as mesmas ansiedades e projeções.
Só que muita coisa foge do nosso controle.
No meu caso, um aspecto geográfico e logístico, acabou com minhas esperanças.
Fomos obrigados a mudar de casa e de bairro.
Quem vive de aluguel sabe bem como funciona.
Não existia 5ª série no período matutino na Escola Pedro I.
Só a tarde, justamente na hora do treino.
Meus pais optaram, obviamente, pela continuidade dos estudos.
Foi um choque na cabecinha daquele menino que entendia estar pavimentando seu caminho.
Escrevo tudo isso para reforçar a importância do relacionamento familiar.
Os próprios fatos que são inevitáveis.
Assim como as oportunidades que não podem ser deixadas para amanhã.
Como fez Bruno Covas.
Depois de várias sessões pesadas de radioterapia, e em meio à pandemia, o prefeito de São Paulo decidiu acompanhar a final da Libertadores, dia 30 de janeiro, no Maracanã.
Um pai ciente da gravidade de sua doença — e da possível iminência da morte — em um momento que dificilmente se repetiria com Tomás, o filho único, um adolescente de 15 anos apaixonado pelo Santos.
Covas foi metralhado.
Recebeu uma saraivada de críticas maldosas, odiosas e cegas, produzidas pela eterna briga de políticos e partidos pelo poder.
Que não respeitam um pai. Um filho. Uma doença.
Bruno Covas perdeu a batalha para um câncer estomacal.
Antes de partir ainda se deu ao trabalho de dar satisfação.
Um depoimento que faz repensar nossas relações.
Que pode ajudar o ser humano a ter mais empatia e respeito pelo próximo, mesmo em lados opostos.
"Depois de 24 sessões de radioterapia meus médicos me recomendaram 10 dias de licença para recuperar as energias. Isso foi até a última quinta (28/01). Resolvi tirar mais 3 dias de licença não remunerada para aproveitar uns dias com meu filho. Fomos ver a final da Libertadores da América no Maracanã, um sonho nosso. Respeitamos todas as normas de segurança determinadas pelas autoridades sanitárias do RJ. Mas a lacração da Internet resolveu pegar pesado. Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim. Ir ao jogo é direito meu. E usufruir de um pequeno prazer da vida. Mas a hipocrisia generalizada que virou nossa sociedade resolveu me julgar como se eu tivesse feito algo ilegal. Todos dentro do estádio poderiam estar lá. Menos eu. Quando decidi ir ao jogo tinha ciência que sofreria críticas. Mas se esse é o preço a pagar para passar algumas horas inesquecíveis com meu filho, pago com a consciência tranquila."
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