A cada instante a vida me ensina que precisamos nos colocar no lugar do outro.
Em qualquer circunstância.
Pessoal ou profissional.
Ninguém é igual a ninguém.
Nem gêmeos idênticos têm o mesmo DNA.
A genética tem influência nas características estética, física, emocional e comportamental.
Mostra uma tendência.
Que nem sempre é fidedigna.
Nada se compara à representatividade de uma mãe.
Já o pai se torna nosso herói. Ou bandido.
Se bem sucedido, vira espelho.
Queremos, no mínimo, manter seu legado.
Mas nem sempre isso é possível.
Sobretudo quando seu paladino é um ídolo.
Reverenciado por uma nação.
Parece um processo natural repetir seus feitos.
Na teoria.
Na prática, tudo ganha uma proporção gigantesca.
Que se transforma em um fardo pesadíssimo.
Minha percepção sobre esse tema aumentou depois da conversa que tive esta semana em Indaial com Romário de Souza Faria Filho.
Romarinho carrega essa carga hereditária desde quando começou a jogar futsal no Vasco da Gama, com sete anos de idade.
Sempre foi cobrado e comparado com o pai famoso e craque, o agora senador Romário de Souza Faria.
Fora do ar, antes da entrevista exibida no quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV/Record TV, na última terça-feira (17), perguntei ao principal reforço do BEC (ao menos, o mais badalado) se este era o 11º clube da carreira.
Sincero, disse que nem lembrava.
Aliás, o atacante foi de uma gentileza e humildade ímpares.
Poderia fazer pouco caso.
Dar uma canseira na gente.
Veio imediatamente após nosso chamado.
Mesmo com o frio (e a ventania) próximo dos 10ºC no Parque Municipal Ribeirão das Pedras.
Nos meus mais de 30 anos de profissão já entrevistei diversos personagens malas.
A lista inclui treinadores e dirigentes por razões óbvias.
Que não jogavam nada, não tinham história e ainda queriam massagem.
Romarinho não está treinando.
Sentiu um estiramento semana passada.
Está fora do jogo-treino contra o Jaraguá marcado para este sábado (21), às 10h, no campo do XV de Outubro, onde a equipe vai mandar seus jogos.
A previsão é que seja liberado segunda-feira (23).
Assinou contrato até 15 de setembro.
O atual vice-presidente e futuro presidente Carlos Roberto de Oliveira (Caio) disse que Romarinho e seu empresário enxergam no Blumenau a chance de um recomeço.
Além da já comentada herança biológica, o atacante convive com lesões desde quando foi profissionalizado.
Falta de continuidade?
Psicológico?
Só ele sabe o que passou nesse tempo todo.
A base naturalmente ele fez no Vasco, de 2007 a 2012 (jogou no sub-20).
Romário, naquela época deputado federal, ameaçou tirá-lo de São Januário por causa das poucas oportunidades que vinha recebendo.
Sem chances no grupo principal, assinou seu primeiro contrato no Brasiliense em 2013.
Ficou lá até 2014.
A partir de então, o que se vê é inconstância.
Em 2015 voltou para o Vasco.
Onde fez só 4 jogos na temporada.
No ano seguinte zarpou para o Zweigen Kanazawa, da segunda divisão do Japão.
Experiência de quase um ano.
Apenas 5 atuações.
De todo modo, afirma que foi o lugar em que mais se sentiu à vontade, pois não foi exigido ou rotulado.
Aproveito para lembrar que o filho de Rivaldo quase largou o futebol, no sub-15 do Mogi Mirim, por conta da referência com o pai pentacampeão - os dois chegaram a jogar juntos no time paulista em 2015.
Em 2016 foi para o Boavista de Portugal.
Voltou.
Vestiu as camisas de XV de Piracicaba SP e Paysandu PA.
A insistência continuava.
Até que foi parar na Romênia, em 2017.
Só assim conseguiu escapar da perseguição.
Atualmente joga no Cracovia, 7º colocado do campeonato polonês.
Luta para ser titular.
Está com 27 anos.
O mesmo se aplica ao filho de Bebeto.
Cria da base do Flamengo (onde o pai tetracampeão se projetou a partir de 1983, vindo do Vitória BA), Mattheus Oliveira não explodiu na Gávea.
O meio-campista somou apenas 20 partidas em três anos.
Em 2014 foi jogar em Portugal.
Está lá até hoje.
Defendeu Estoril, Vitória de Guimarães e Sporting, onde teve o contrato encerrado em 2021 - no primeiro semestre foi emprestado ao Coritiba.
No começo do ano assinou com o Clube Desportivo de Mafra, da segunda divisão, recém adquirido pelo lateral Marcelo, do Real Madrid.
Tem 27 anos.
A relação entre Pelé e Edinho dispensa apresentações e consequências.
Ninguém no mundo enfrentou um "trauma" maior do que o goleiro para se tornar jogador.
Em março, durante o Campeonato Paranaense, foi técnico-interino do Londrina, na vitória sobre o Cianorte por 1 x 0.
Hoje, aos 51 anos, comanda os times sub-17 e 20 do "Tubarão".
Voltando a Romarinho.
Em 2017 fez parte do Macaé RJ.
No segundo semestre foi para o Tupi MG.
Em 2018 fechou com o Figueirense.
Sua melhor média aconteceu no sub-23 quando marcou 3 gols em 6 jogos.
Retornou ao Tupi MG em 2019.
Passou ainda pelo Maringá PR.
A maior sequência de partidas foi no Joinville em 2020.
17 no total.
Em contrapartida nenhum gol marcado.
Fato que nunca o perturbou, imagino, afinal é atacante de beirada de campo, bem diferente do pai.
Em 2021 disputou o campeonato gaúcho pelo Novo Hamburgo RS.
E este ano foi parar no Icasa CE.
Só 24 minutos em ação em 2 confrontos.
Alegou problemas pessoais e foi embora de Juazeiro do Norte.
No último dia 5 de maio se apresentou no BEC.
Nesta sexta-feira (20) em Indaial, no campo do Unidos, viveu um momento bacana.
Foi paparicado por crianças e professoras de uma escolinha.
A propósito, no Instagram, onde tem 174 mil seguidores, Romarinho parece um popstar.
Escrevo isso no bom sentido.
Sem nenhum tom pejorativo.
Geralmente está em belos cenários.
Praias, principalmente.
Serve de modelo e garoto-propaganda de produtos e marcas.
A amizade com parceiros.
Raramente se expõe ao lado de mulheres, embora a fama de pegador seja grande, assim como foi a do pai.
Tem esportes e futebol nas postagens, claro.
Ao mesmo tempo faz questão de mostrar a forte ligação que tem com a família.
A conta dele é bem legal.
Se isso teve alguma influência na sua carreira não sei.
Não creio.
Também não me interessa.
Aos 28 anos, Romarinho tem mais é que aproveitar a vida mesmo.
Precisa ser avaliado, cobrado ou elogiado pelo que ainda pode fazer dentro de campo.
O pai nunca escondeu que gostava do sereno.
Que já chegou a ir direto das baladas para os treinos e jogos.
Só que o baixinho decidia, resolvia.
Romarinho é sangue bom, como pode ser visto de alguma maneira na entrevista apresentada logo abaixo.
Sabe que as comparações são inevitáveis.
Cabe a ele, mais uma vez, provar definitivamente para os céticos - e sobretudo para si mesmo - que isso um dia vai ser revertido, que ainda tem potencial como atleta.
Estou na torcida.
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